quarta-feira, 16 de julho de 2008

VAMOS ENSAIAR

O Vocacional Apresenta a partir de agora divulgará seus ensaios produzidos pelos artistas vocacionais: Walter Portela, Ângela Barros, Lilih Curi, Beto Moretto, Teca Spera, Paulo Faria, Cristina Losano, Maria Ângela, sob a batuta de Paco Abreu.
O nome ensaio foi escolhido por ser muito próximo ao nosso vocabulário teatral, em que, neste período de um processo é quando todas as ferramentas do fazer teatral se encontram num dialogo criativo, a partir de suas dramaturgias e em sintonia com o espetáculo.

E o ensaio também é uma ferramenta literária mais livre de impressões, sem uma forma definida, sem ser totalmente analítica ou crítica. Aqui os estilos narrativos é que tão o tom da prosa, a partir de seus autores, como os que aqui deixarão seus depoimentos, suas impressões, como quem escreve uma “carta para um amigo de teatro”, recheada de afeto e de admiração, porém cheias de opiniões e reflexões políticas, estéticas e artísticas.
Estes ensaios também tentam captar as primeiras impressões das apresentações nas terças do Teatro Vocacional nos equipamentos públicos da prefeitura, assim como, uma avaliação final a partir de todos debates após os espetáculos, os relatos técnicos feitos por toda a equipe desse módulo do Vocacional – que avalia as questões sobre a acolhida ao grupo, o seu ensaio técnico, a afinação da luz, do som, os horários combinados etc, para que a permanecia do grupo no equipamento, no teatro, seja como a permanecia do “amigo em nossa casa”.
O ensaio por vezes também é resultado de uma visita ao grupo, da ida ao ensaio, de uma entrevista, da seleção à apresentação da peça no Vocacional Apresenta – ou e também o resultado disso tudo acima.
Os ensaios são para todos e por todos.
Aqui é o espaço aberto para um diálogo permanente entre público, grupos de teatro e os artistas orientadores.

E vamos ensaiar!

terça-feira, 15 de julho de 2008

ENSAIOS

VOCACIONAL APRESENTA

Junho 2008


Outra “Agreste” coisa por Roberto Morettho.............................p.02
Barracão de Ofício por Paulo Faria..................................................................p.05
Grupo Teatral Cervantes por Walter Portella...............................................................p.07
Ensaio Interativo para um grupo Corajoso por Maria Ângela Ambrosis.....p.08
Grupo Purangaw em A Gaiola das Loucas por Soraya Aguillera.............p.15
Ensaio sobre o Inacabado por Lilih Curi...................................................................p.18
O Gigante Nelson Rodrigues e a Valente Identidade Oculta Cia. Teatral por Paco Abreu...p.21
Ensaio Bando do Pé Rachado por Ângela Barros...........................p.24
O Poder do Jogo – brincando de pega-pega no A-Tri-On por Cris Lozano...p.26


ENSAIO
Outra “Agreste” coisa
Roberto Morettho
INTRODUÇÃO
A proposta desse trabalho é comentar as apresentações do grupo de teatro “Outra Coisa” com o espetáculo “Agreste” no projeto Vocacional Apresenta da Secretaria Municipal de Cultura no ano de 2008.
O primeiro desafio com o qual me deparo, é a tessitura das considerações apresentadas nos relatórios técnicos dos demais artistas que acompanharam as apresentações do grupo. Tais considerações ajudam a compor este ensaio que dissertará sobre o histórico e aprimoramento do espetáculo, bem como de seus integrantes. Começo situando os integrantes do grupo e sua formação.

HISTÓRICO DO GRUPO E DO ESPETÁCULO
O grupo Outra Coisa surgiu na Casa de Cultura do Itaim Paulista no ano de 2005, dentro do projeto Teatro Vocacional. Dentre seus integrantes alguns são oriundos de outros grupos de teatro e também de turmas de iniciantes da própria Casa de Cultura. O grupo surge num espaço de experimentação cênica de jogos textuais e de ações físicas, sob minha orientação até o ano de 2007, pois durante esse período fui artista orientador no Itaim Paulista.
O primeiro treinamento que propus ao grupo foi com a dramaturgia das “peças faladas” de Peter Handke, e dentre essas peças trabalhamos com o texto Auto-acusação (Silêncio). Nesse texto não existem papéis, apenas um orador e uma oradora que formam uma partitura textual harmônica, e a minha orientação foi no sentido de criarmos variados papeis baseados em fragmentos desse texto, utilizando-se de jogos e de ações físicas. Essa experiência foi marcante para a autonomia e estabilidade do grupo, bem como para a criação do espetáculo “Agreste” que é tema deste ensaio.
No “Agreste” o mesmo processo citado acima foi novamente experimentado, agora com os integrantes decidindo e conduzindo os aquecimentos, os jogos, e as cenas. Surgiram durante esse movimento dois líderes que assumiram uma frágil condução do grupo e das necessidades do espetáculo. No ano de 2007 esses líderes se afastaram o que me fez intervir, rearranjando o espetáculo, nessa nova fase, o grupo se estruturou a partir das apresentações de Agreste. Eles participaram do Vocacional Apresenta, do Festival de Teatro Vocacional, em CEUS, entidades e ONGs, além de ficarem em cartaz durante quatro semanas na Casa de Cultura do Itaim Paulista. Seguiram sem uma liderança definida, mas com alguma divisão das responsabilidades entre seus integrantes, e no início de 2008 acabaram sendo contemplados com o Projeto VAI para desenvolver uma nova pesquisa.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A APRESENTAÇÃO
Segundo o relato técnico de meus amigos, esse hiato na liderança, se reflete nas atuais apresentações de “Agreste” no Vocacional Apresenta, seja em algumas dificuldades dos atores no trato com o texto, seja em algumas encenações frágeis, ou na incapacidade de assumir nas ações do palco, alguns discursos apresentados nas apreciações finais.
Antes de me aprofundar nessas questões gostaria de levantar outras considerações feitas pelos orientadores do Vocacional Apresenta em seus relatos técnicos. No geral eles consideraram as apresentações interessantes, segundo alguns, o grupo surpreende no trato diferenciado com o público ao optar pelo espaço em arena e também pela circulação por entre os espectadores durante o espetáculo. Os atores demonstraram um bom domínio nessa aproximação, conseguindo a adesão do público e tornando poéticos alguns momentos da montagem. Outra característica apontada é sobre o uso das sonoridades que conseguem preencher o espaço cênico com ritmos e musicalidades bem pertinentes a estória apresentada. O uso simples da luz com as lanternas e com o fogo ao final proporcionam a medida exata da estória, bem como os figurinos e o cenário refletem a simplicidade e a fragilidade do espaço evocado e das personagens do texto. Outra questão apontada foi o intimismo do espetáculo que foi construído para um publico de no máximo quarenta pessoas e que pede que as apresentações aconteçam em um local fechado, escuro e sem circulação de pessoas. Não prestar atenção nessa questão significa abrir mão da qualidade e dos objetivos do espetáculo e isso foi frisado como essencial para que o grupo consiga atingir os objetivos da encenação.
Voltemos agora às questões apontadas anteriormente e que tratam de algumas fragilidades do espetáculo. O texto “Agreste” de Newton Moreno mescla momentos épicos (narrativos) com momentos dramáticos (de ação) com uma linguagem ora realista, ora lírica. Esse tratamento do texto é uma das qualidades que devem ser consideradas quando levadas a cena. Apesar de o grupo “Outra Coisa” ter muito claro a diferença entre teatro épico e teatro dramático que foi percebida durante as discussões ao final das apresentações entre atores e publico, existe ainda certa fragilidade na prática dessas linguagens pelos atores na cena. O texto narrativo em alguns casos não chega ao público e em alguns momentos os integrantes se dirigem apenas aos espectadores que estão a sua frente, esquecendo-se do público que os rodeiam, em outros momentos o texto é falado de forma displicente e inaudível. Também nas cenas dramáticas, segundo os relatos, há alguns vícios de interpretação relacionados à entonação do texto e a “mecanicidade” de algumas ações e que merecem ser revistos. Foi levado em consideração nos apontamentos que tais dificuldades podem estar relacionadas a falta de ensaio e de aquecimentos adequados, anteriores as apresentações, o que de fato acarreta a perda da qualidade a qualquer espetáculo teatral. Nossa sugestão é que cada ator treine uma concentração de deslocamento, ou seja, tentar na medida do possível, lembrar durante o trajeto até o local das apresentações das suas falas, das suas ações, das deixas dos colegas, das marcações da cena e principalmente das intenções das personagens que cada um interpreta. Mas o ideal é guardar um tempo para a chegada, para o preparo, aquecimento e ensaio das apresentações. Com relação às questões práticas sobre teatro épico e dramático nosso encaminhamento é a de que o grupo passe por um “workshop” sobre dramaturgia que servirá como subsídio para as próximas apresentações.
Também encaminhamos ao núcleo de direção e ao coordenador da Equipe Leste a possibilidade de haver acompanhamento do grupo por algum artista orientador da região.
Uma ultima sugestão ao grupo é tentar entender e de alguma maneira colocar em cena aspectos que historicizem as personagens, ou seja, que levem em consideração que elas são frutos de um contexto político e social e não sinalizem tanto a individualidade dramática de suas estórias. Quando o sentido político do argumento está escondido atrás de uma inocência, enfim, quando há mistificação em cima dos dramas pessoais, perde-se o contexto social e a possibilidade de suscitar no público questionamentos políticos e sociais. Podemos e devemos emocionar o público através do espetáculo, mas tentando sempre proporcionar uma reflexão social coletiva e não individualista. Bom, acho que é isso!

São Paulo, 15 de Junho de 2008.



BARRACÃO DE OFÍCIO – apresentações em maio e junho de 2008
Ensaio Paulo Faria

O espetáculo Memórias de Rua do Grupo Barracão de Oficio já esteve no Vocacional apresenta em 2007. O grupo tem uma excelente formação: é oriundo da Escola Livre de Santo André, e isto transparece na forma como o grupo se organiza e investiga todas as áreas de criação do espetáculo teatral: luz, cenografia, trilha, iluminação, texto, figurino, objetos cênicos, canções, espaço. O espetáculo é fruto de um processo de pesquisa e criação teatral a partir do entorno onde o grupo atua: Estação da Luz. A poética de montagem da troupe é amparada no processo colaborativo. A direção partiu da investigação dos atores que buscaram caminhos no campo da pesquisa no Bairro da Luz, ou seja, pesquisa-cena-sistematização; questões do teatro épico – narrador, enfoque político. Todos são os criadores e dominam bem a cena em seus tempos e silêncios junto com a respiração da platéia.
Logo no início o grupo questiona a platéia através de uma pergunta: Por que faríamos uma revolução? E a platéia responde positivamente sobre suas próprias revoluções e o porquê delas. O espetáculo vai o tempo todo ativando o público através de inquietações e nomeia o publico como personagens da rua: o velho avarento, a fofoqueira etc. Buscando um pacto e cumplicidade permanente com o público.
De uma forma simples e teatral o grupo conta as memórias de uma rua, revela suas personagens e os diferentes momentos históricos na formação da rua e da cidade. Neste aspecto da história (rua, cidade) é que o grupo poderia localizar um pouco mais os fatos e períodos narrados, pois o universo didático em que a peça está construída teria maior comunicação junto à platéia. O óbvio não pode ser descartado nesta montagem. O que mais salta são as personagens e menos o momento em que isso acontece, a história – o fato histórico que a peça enfoca – que revolução é essa? 32? Golpe militar? Esse paralelo poderia enriquecer mais os objetivos que o grupo propõe em cena. Parece que arriscar mais, investigar mais a estrutura do texto teatral poderia ser um dos caminhos.
Apesar do jogo de cena ser bastante teatral (e o grupo faz questão de buscar soluções simples e poéticas para enriquecer mais a sua dramaturgia), o debate não revelou interesse muito grande pela história contata, uma vez que os fatos não são claramente especificados e o jogo da encenação salta aos olhares inquietos da platéia que se ateve a questões do fazer teatral, como formação da troupe, cotidiano dos atores, identificação com as personagens. O que por si já é um grande mérito, pois a montagem proporciona um debate bastante investigativo sobre o fazer teatral, respondendo a todos as questões deste fazer. Porém, o rico material de pesquisa não se apresenta como interesse ao público.
Os atores têm enorme empatia com o público e utilizam músicas inéditas e executas ao vivo para contar melhor aquela rua, penetrando num universo bem popular no imaginário do público. Os atores têm domínio do espaço e das ações físicas de suas dramaturgias, porém valeria um cuidado mais técnico com a dicção para que o texto fosse mais bem respirado e dominado em suas intenções. Por vezes algumas nuances do texto ficam comprometidas pela rapidez com que o texto é dito. Como o grupo compõe as músicas e canta (belas vozes), poderia se dedicar um tempo a um treinamento vocal permanente.
O grupo tem já um itinerário traçado para a profissionalização, caminho natural entre grupos formados em escolas de teatro, que apostam na linguagem como ferramenta afiada para penetrar no mercado tão difícil do teatro profissional, e que por sua vez se ampara neste tipo de teatro para se renovar enquanto linguagem e artistas.
Acredito que seria muito bom para o grupo ter uma orientação de um artista orientador do Teatro Vocacional para provocar no grupo questões técnicas, artísticas e ideológicas para que ele se estruture mais em seu caminho. O grupo solicita assessoria técnica na área de produção o que salienta o aspecto profissional que deseja, porém uma verticalização maior na carpintaria do texto teatral poderá ser muito bom para o grupo, uma vez que ele produz seu próprio texto.
A iluminação também aposta na simplicidade, apenas um foco central, criando na platéia a sensação de estar em baixo de um poste de luz de rua. Os bancos corridos em que a platéia é colocada, estão na lateral, como se estivesse sentada em bancos em frente as casas, deixando os atores no meio, como que na própria rua, numa semi-arena. A luz e o cenário causam uma nostalgia desses tempos em que o medo se chamava jamais. Ruas de nossas memórias postas no ancestral tablado.
O grupo é bastante maduro e preparado para vôos mais altos, rumo à profissionalização desejada. Com certeza Memórias da Rua é uma bela, lírica e apaixonante declaração de amor ao teatro que o Grupo Barracão de Ofício interpreta em seu jovem e promissor caminho.



Ensaio – Grupo Teatral Cervantes

Peça –“O Pagador de Promessas” – Original de Dias Gomes

O Grupo tem suas raízes em 1975 no então Grupo Studio 6 , de onde vem o mentor Antonio Tadeu.Apos 6 anos de trabalhos no Studio 6, fundou em 1981 o Grupo Teatral Cervantes, que conforme podemos ver no programa anexo, tem uma larga folha de realizações e uma preocupação de pesquisa nos trabalhos que desenvolve. É o caso do estudo sobre Dias Gomes, autor do seu ultimo trabalho- adaptação de ”O Pagador de Promessas”
Do espetáculo:
A história mesmo tendo cortes enormes de personagens e do texto em geral, e bem contada.
È um grupo que gosta do que faz, e o faz com seriedade. A prova disso é o tempo de existência do grupo que foi fundado em 81. Como eles falaram e o que eu vi, é um grupo democrático, todos dão opinião, sugerem, discutem; mas a meu ver o “cabeça” do grupo acaba sendo o Tadeu ( o único que permanece desde a sua fundação)
O Cervantes já passou por vários projetos e orientações no decorrer de todos esses anos: Projeto Ademar Guerra – Orientadores: Paulo Drumond, Enio Gonçalves, Tuttoilmondo; participou ainda de Projetos da FEPAMA, com Lupinace, Maria Chiesa e Projetos do POESP com Reinaldo Puebla e Hugo Vilacenzo. Mas como se pode observar tanto no espetáculo quanto no ensaio ainda tem muito a ser feito. Eles tem boas idéias tanto na encenação como nos questionamentos políticos, em geral bem cabíveis na peça. Porem a deficiência de técnica tanto corporal quando vocal interferem na execução do trabalho. Têm uma tendência de fazer pela metade (não por falta de vontade), mas por falta de técnica, tônus , não conseguem ocupar o espaço.
Esses problemas ficaram bem claros na apresentação, e como houve também falta de ritmo e buracos entre uma cena e outra ,a peça quase chega a ficar cansativa.
Ma é um bom trabalho apesar dessas questões.
Agora estão no processo de outra montagem “Memórias de um Sargento de Milícia” que pretendem estrear em outubro. E pesquisam o universo da rádio-novela que pretendem adaptar para o teatro
Talvez seja possível colocá-los na agenda de outubro.

Walter Portella



Ensaio Interativo para um grupo corajoso:
Cia Theatral Bacamarte

Espetáculo “Eterna Loucura”, de Yvo Rogério e Fernando Cartago
Artista Orientadora: Maria Ângela de Ambrosis
Junho de 2008
O grupo
Dia 28 de abril, 9:00 horas da manhã, ensolarado dia de domingo.
– O grupo está chegando. Informa a primeira integrante que lá estava sentada na calçada.
Logo depois, chega Ari com seu violão e a chave. E os cachorros? Renato pede para caseiro prendê-los.
Estamos na Casa para Educação e Lazer do Jd. São Luís, zona sul, próximo ao CEU Casa Blanca. Local amplo, com parque infantil, sala de informática com respectivos cursos. As instalações são simples. As melhorias no local são realizadas pelos próprios usuários e comunidade. São desenvolvidas várias atividades pelos próprios moradores da região.
Enquanto o grupo não chegava, estes foram alguns assuntos trocados com Renato, integrante do grupo, responsável pela preparação corporal. Renato chegou a cursar um ano na Escola Macunaíma, o que conhece de teatro coloca prontamente à disposição do grupo.
O grupo já existe a 7 anos. Entre 2001 e 2003, apresentaram o espetáculo “A farsa da boa preguiça”, de Ariano Suassuna e desde 2006, apresentam o espetáculo “Eterna Loucura”. Porém, a maioria do elenco é recém chegada.
Aliás, Cia Bacamarte, é impressão minha ou vocês remontaram a peça “Eterna Loucura na emergência do compromisso assumido com o Vocacional Apresenta?
Pelo sim ou pelo não, vamos para reflexão:
Alguns fatos:
Pelo não: o grupo desde dezembro do ano passado tinha interesse em remontar o espetáculo. A idéia é deixar o espetáculo montado como repertório e iniciar uma nova montagem.
Pelo sim: grupo confirmou que havia cinco mudanças de elenco: 1) o protagonista, 2) a médica. Estes dois, já faziam parte do grupo e já vinha estudando o personagem. O susto foi trocar as três Roses (personagem da alucinação do protagonista) que eram novas no grupo e no fazer teatral.
Comentários do grupo
Como foi o processo de ensaio?
Intenso, rigoroso e exigente com os atores para melhorá-los. Construtivo. Exigiu muita dedicação concentrado nas novas integrantes que fizeram os papéis de Rose, os exercícios foram voltados para elas. Compreensão dos personagens, criação de gesto, respiração e texto, marcação, entradas e saídas.
Quais as dificuldades encontradas?
Incorporar personagem. Pouco tempo de ensaio antes da apresentação. Trabalho concentrado nas Roses e deficitário em relação aos outros personagens. Realizar a personagem Rose. Integrar-se ao grupo. Aprender a trabalhar com produção. Realizar um papel que outra pessoa tinha feito tão bem. Ensaiar em pouco tempo os atores novos em seus respectivos papéis.
O que foi legal neste processo?
Compreensão do diretor. Exercícios de concentração, apoio do grupo, entrega e prontidão de todos para o trabalho. Persistência, desafio, ter conseguido cumprir os objetivo. Ganhar novos conhecimentos de som e luz. Seriedade e compromisso de todos. Apoio do Almir. Tudo o que aprendi.
Pausa para reflexão. De certa forma isto, acima descrito se reflete no espetáculo. Por um lado, a unidade e integração do grupo era bastante clara no espetáculo. Por outro lado, algumas interpretações ainda ficaram a desejar por falta de tempo de ensaio, percepção e compreensão do texto e do personagem. No depoimento de vocês sobre a temporada no Vocacional Apresenta, todos observaram o crescimento do trabalho no decorrer das apresentações. Ou seja, há muito o que crescer, não é?
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Renato cuida da preparação corporal, incluindo a bolacha com café que acompanha o ensaio. É importante estes exercícios que Renato conduz para aquecimento e alongamento do corpo bem como a massagem para relaxamento e até integração do grupo.
Ari faz a preparação vocal e musical. De fato, em cena, fica claro o bom preparo vocal dos atores, como também observou o Artista Orientador Roberto Moretto do CEU Alvarenga. O trabalho de Ari está voltado para a perspectiva de o grupo montar um musical.
Como vocês percebem a importância deste trabalho de corpo e voz no processo de ensaio da peça?
“Toda a energia dos exercícios, tanto de voz quanto de corpo é revertida para atividade seguinte. Se fazemos exercícios legais e depois ensaiamos, tudo flui muito melhor e todos podem mostrar mais seu potencial” (Almir).
“Toda construção deve ter uma base, treinar nosso instrumento de trabalho é fundamental” (Renato).
“Cada exercício prepara para algo na peça e alguns são para dar uma base. Com relação ao canto meu foco são os conceitos básicos vocais para o ator ter consciência de como usar corretamente a voz e agrego o conhecimento de música e canto básico.” (Ari).
”Eu percebi que ao longo do tempo eu comecei a entender várias técnicas vocais e ajudaram no meu personagem e quanto ao trabalho corporal eu sinto o meu corpo mais livre e desperto para o trabalho” (Diogo).
Preparação vocal: “uma preparação muito boa para a projeção de voz. Os exercícios corporais me ajudam para uma melhor entonação, concentração e relaxamento” (Bruna).
Os exercícios de corpo e voz: “é através deles que nos tornamos mais próximos, perdemos o medo de nos tocarmos. Temos também uma melhor percepção do que nosso corpo pode ou não fazer.” (Acássia).
“os trabalhos de preparação são de extrema importância para que cada membro do grupo ganhe consciência corporal e vocal incluindo também os exercícios teatrais para a preparação e criação individual dos atores”(exercícios dados por Almir)(Thiago).
“Nos personagens usamos o nosso corpo para se expressar também, se o nosso corpo estiver dolorido e por isso não corresponder com disponibilidade atuante do ator, a cena perde o brilho. Por isso é necessário o aquecimento corporal” (Caroline).
“ os exercícios corporais são voltados para as necessidades individuais e coletivas, para a peça e para a atuação, todos são livres para propor e conduzir os exercícios”(Marcos).
“O trabalho corporal dá prioridade às necessidades do grupo. (...) são de suma importância na peça para que nossas personagens tenham mais vida e para que suas ações sejam mais espontâneas (...) para que possamos acreditar no que fazemos. O trabalho de voz é tão importante quanto o de corpo para a garantia que as vozes estejam audíveis por todo ambiente. A projeção de voz é fundamental para a expressão de sentimentos e assim tornas o espetáculo coerente e com mais vivacidade.”(Karina).
Pelos depoimentos vê-se com clareza o quanto estes trabalhos têm importância e fundamento para o grupo. Nesse sentido, vale investigar mais a questão da expressividade do corpo e da voz. Mais que aquecimento do corpo e mais que projeção da voz, estes treinamentos são responsáveis pela expressividade, pela presença cênica, pela prontidão como apontou o depoimento de Diogo, pela autonomia da criação do ator, ou seja, como ator você é um co criador da peça e não somente um executor. Porém, tudo isso só se conquista fazendo, não pode ser só discurso e talvez para próximo trabalho o grupo pode estar mais apropriado da escolha do texto. Sugiro também a todo o grupo, que busquem trabalhos de dança contemporânea, por exemplo, ou trabalhos de consciência corporal. Renato como maior interessado pode já ir buscar uma formação também específica tal como Almir que conduz os trabalhos específicos de teatro graças a sua formação de ator.
Após estas duas atividades, o grupo inicia o ensaio da peça, conduzido por Almir co-diretor. O elenco em sua maioria novato é bastante disponível e com vontade de aprender. Isto é fundamental. Talvez o que Almir se depara é com a fragilidade de formação teatral do elenco, ou seja, quando ele dá alguma orientação para realização da cena e não alcança o resultado esperado isto se deve a falta de conhecimento de parte do elenco no domínio da linguagem teatral. Não adianta pedir para uma criança pular corda, se ela nunca teve a oportunidade de aprender. Por um lado teatro se aprende fazendo, mas por outro, já existem bastante conhecimento e técnicas de teatro que auxiliam este aprendizado.
Assim a seqüência das atividades desenvolvidas – preparação vocal e canto, preparação corporal e ensaio da peça – demonstram a organização do grupo e a percepção da necessidade de preparação e formação do elenco. Nesse sentido, sugiro ao elenco todo buscar outras fontes de formação teatral (Projeto Teatro Vocacional no CEU Casa Blanca ou na Monte Azul, cursos e oficinas livres de teatro) e, se possível, juntos. Para o grupo, sugiro a busca por um Artista Orientador do Teatro Vocacional.
Fernando, o pouco contato que tivemos não me permitiu perceber qual é sua participação como diretor. O que pude perceber no ensaio no dia da apresentação foi um diretor muito preocupado com as marcações dos atores, estressado com um elenco, que grita e é autoritário. Diferente do integrante do grupo que vi no último encontro, alguém que reconhece, inclusive, a dificuldade de delegar funções. Alguém que o grupo acolhe com carinho e confia, inclusive nas exigências que você faz.
No dia da apresentação, parecia que as coisas não estavam ensaiadas como você queria, você autor e diretor da peça. Ou seja, você delega o ensaio que por motivos pessoais você não pode conduzir, mas não deixa de exigir o que você queria que a cena fosse em função de seu envolvimento pessoal com a peça, com a temática, com seu amigo co-autor. Ou se delega e confia no que o outro está fazendo ou não se delega. Isto confunde o elenco, o deixa inseguro. Toco nesta questão do seu envolvimento pessoal com a peça pois, me parece que esta peça está é completamente sua e você quer que a todo custo o elenco realize o que você pensa dela, sem dar espaço para que as pessoas possam expressar o que elas sentem, percebem e querem do espetáculo enquanto co-criadores. Você não pode exigir do elenco a mesma relação afetiva que você tem com a peça, eles não participaram da criação dela, só receberam o texto e você já tem muito porque eles aceitaram realizar.
Finalizando, é importante notar que parte do trabalho do grupo pode ser na formação e treinamento do elenco como vocês o fazem. Isto é bom porque traz unidade e coerência para o grupo. Outra parte, o elenco precisa já ter uma base de conhecimento da linguagem para ganhar autonomia na criação e assim o grupo receber a contribuição de atores criadores e não apenas reprodutores de um modo de se realizar a cena. Caimos na velha história de dar o peixe ao invés de ensinar a pescar. Na emergência de montar o espetáculo, acabamos por dar logo o peixe, e não temos a paciência de esperar que o ator crie seu personagem, entenda a seu objetivo e sua ação e aproprie-se da peça como se fosse sua. E por vezes, a pressa de se construir o espetáculo não permite a direção instrumentalizar também o elenco.
A peça
Vamos ver agora como esta questões do grupo também repercutem no espetáculo. Há que a gente compreender que o processo de montagem, o relacionamento entre os integrantes, os exercícios, jogos, atividades que o grupo realiza compõe a cena teatral.
Primeiramente, é importante pontuar que o espetáculo tem uma boa receptividade do público, ou seja, o grupo consegue se comunicar bem. Podemos pensar algumas razões que levam a esta boa comunicação. Vocês têm uma boa organização em cena. O elenco é atento e integrado aos acontecimentos do espetáculo. O trabalho de corpo, jogo e voz que vocês realizam antes do ensaio, a integração e amizade entre vocês contribui para esta boa integração na cena. O espetáculo tem boa dinâmica e fluência. As cenas são claras e sem exageros. O cenário e o figurino estão coerentes com a proposta do texto. As cenas cômicas estão divertidas. Assim, embora tenha um longo e cansativo começo só com as músicas, posteriormente o espetáculo reconquista o público por todas estas outras qualidades.
Mais especificamente, vamos pontuar cada uma das dramaturgias que compõem a cena teatral:
Música: como observado pela própria platéia, as músicas de início são longas causando um desconforto. Neste início, as luzes da platéia ficam acesas, nada acontece no palco, ouve-se a música. Tudo indica que o espetáculo não começou. Então a gente se pergunta: o que é que eles estão esperando? Será que posso ir ao banheiro? Por que demora tanto?
Qual é a importância do início do espetáculo? A pergunta ainda persiste, pois na nossa conversa (22 de junho) vocês mais justificaram o porquê das músicas no começo serem tão longas do que tentar formular uma resposta sobre a importância do início do espetáculo. Música para o público entrar é uma coisa. Música que compõem as cenas do espetáculo é outra. Pensem nisso, espero ver a resposta no próximo espetáculo.
No contexto do espetáculo, esta cena se perde. Ou seja, não ganha sentido para o público que já ficou irritado com a demora do início.
Trabalho de ator: embora haja um bom desempenho dos atores, ainda a construção das personagens necessita mais atenção quanto ao objetivo delas na cena e uma definição mais clara de suas características. Conhecer um pouco melhor o universo dos loucos e a realidade dos hospitais, pode aprofundar a pesquisa de quem é o louco, suas angustias, suas histórias e até a suposta alegria da alienação, talvez os personagens de Deco e Glorinha, por exemplo, manteriam esse jogo alegre que estabelecem sem tanta infantilização das personagens. Digamos que de vez em quando a gente fica sem saber se são crianças ou se são adultos. Que aspecto da alucinação as personagens Roses querem pontuar? Que histórias elas contam de si e de Ítalo?
Cenário/figurino: Mesas e cadeiras compõem a sala da médica. Os figurinos compõem este quadro hospitalar. De modo literal, compreendemos o local da ação e seus personagens. Na composição do espetáculo existe coerência destas dramaturgias e a proposta do texto e da encenação.
O painel parece referenciar o estado de loucura. No contexto acima, ele fica desvalorizado, sem função. Ele não é um quadro que compõe a sala da médica. Ele tem outro objetivo. Qual? E como valorizá-lo?
Um eixo importante que parece pouco claro na peça é o que ela quer mostrar, seu objetivo. Vi dois: a vida no hospital psiquiátrico (neste caso precisa aprofundar, pois não é essa alegria toda), o desilusão amorosa vivida por Ítalo que o conduz à loucura (também se é isso é legal aprofundar a questão dos relacionamentos amorosos). Ou ambos, mas aí há que rever um modo de integrar melhor estes objetivos. De qualquer forma, é necessário ter mais clareza do objetivo da peça (superobjetivo do Stanislavski) e como cada cena contribui para este superobjetivo.
O espetáculo é feito de escolhas. O objetivo da peça ajuda a selecionar melhor as escolhas. E a organização dos ensaios, as atividades, os exercícios de corpo e voz que vocês realizam são fundamentais para ampliar o repertório de possibilidades onde, então, as escolhas dos atores para seus personagens podem ser realizadas com mais fundamento. Neste ponto, tocamos também na importância da pesquisa da temática trabalhada como um dos focos a ser melhor explorado pelo grupo. No caso de vocês a questão da relação do amor e da loucura.
Esta pesquisa pode auxiliar a compreensão das cenas, seus objetivos e sua articulação no contexto do espetáculo. As cenas ainda estão soltas, sem um objetivo que as direcione. Retomo um pergunta da platéia: Qual a função das cenas cômicas para o espetáculo? Será que é somente para chamar a atenção do público? Se sim, isso significa que nas outras cenas o público perde o interesse pelo espetáculo. Isso é verdade?
Neste ponto, vale uma reflexão mais aprofundada da dramaturgia do texto: como e porque de cada cena.
Sugiro vocês assistirem ao espetáculo ‘Adelina’, do grupo Vento Forte, na Ponte da Cidade Jardim. Se possível, visitarem um hospital psiquiátrico. Conhecer os trabalhos e publicações de Nize da Silveira.
Coragem!
Maria Ângela de Ambrosis


ENSAIO - GRUPO PURANGAW EM A GAIOLA DAS LOUCAS - POR SORAYA AGUILLERA

O Grupo Purangaw foi criado por alunos de Arquitetura da Faculdade Mackenzie em São Paulo, no mês de março de 1995. Durante muitos anos o grupo atuou dentro da faculdade com o patrocínio dos Diretórios. De 6 em 6 meses, eram abertas as inscrições para novos atores. Os recém chegados passavam por períodos de formação, inúmeras oficinas de teatro, que os atores mais antigos ou algum convidado ministrava, na grande maioria oficinas de interpretação. Me parece que essa ação, tão positiva por ser de formação, perdia-se na irregularidade.
Hoje o grupo é formado por 09 (nove) integrantes, a maioria está há muitos anos no Purangaw. Com vinte espetáculos no currículo e inúmeras oficinas de formação, estreou no Vocacional Apresenta em 2007 com o espetáculo Macário, adaptação do texto de Alvares de Azevedo. Com boa adaptação, direção e interpretação o grupo conquistou a opinião dos coordenadores e ficou entre os 15 melhores espetáculos de 2007 do Vocacional Apresenta.
Não há mais nenhum integrante da primeira formação. Gilson é o mais antigo, entrou no Purangaw um ano após sua formação, em março de 1996. Gilson de Carvalho é o produtor e principal representante do Purangaw. Gilson prefere produzir e atuar, sua última direção foi no ano 2000. Ele não gosta de dirigir, porém as decisões da direção passam, naturalmente pela sua apreciação. Gilson é arquiteto, no teatro assumiu o trabalho não profissional, acreditando no processo de grupo e rejeitando a formação acadêmica.
A direção artística é revezada entre os integrantes que se interessam por direção. atualmente: André Wilda e Viviane Andrade.
Viviane dirigiu Macário: Fez uma boa direção, suas opções de encenação eram claras, boas atuações e boa finalização do espetáculo.
André Wilda: dirigiu o atual espetáculo da Cia, A Gaiola das Loucas. Boa direção, porem o espetáculo estreou antes da hora, ainda precisando de ensaios.
Fabiano Valim: tem uma boa contribuição na dramaturgia:
Criou alguns textos como "Eu Você e Todos os Outros", adaptou outros do repertório do Purangaw, como Macário. Fabiano é um dos poucos que não vieram do Mackenzie. E´ formado em letras pela USP e quer participar da oficina de dramaturgia oferecida pelo Núcleo Vocacional.
Apesar de Fabiano Valim centralizar a criação ou a adaptação do texto ou tema escolhido pelo grupo, todos participam ativamente da construção... na teoria: pesquisando e opinando nas reuniões...... e na prática: através das dinâmicas e das improvisações propostas pelo Gilson ou pela direção.

A Adaptação do texto A Gaiola das Loucas é de Paulo Rogério Rocco. Paulo fez a adaptação para o seu Grupo de Teatro Curtura. O Purangaw gostou e pediu autorização ao Paulo. No processo de ensaios o texto sofreu algumas modificações.

Jean Poiret (Paris, 17 de Agosto de 1926 - Paris, 14 de Março de 1992), foi um actor, realizador e cenógrafo francês, que ficou conhecido globalmente pela sua peça de teatro La Cage aux Folles (br.: A gaiola das loucas), mais tarde adaptada em França para cinema também com La Cage aux Folles e nos Estados Unidos da América como The Birdcage, realizado após o enorme sucesso do musical na Broadway . Poiret, um homem de olhar vivo e malicioso, nasceu e morreu em Paris, vítima de ataque cardíaco, onde se encontra sepultado no Cemitério de Montparnasse
O texto, escrito em 1973 pelo francês Jean Poiret, narra as desventuras de um casal "gay" que precisa fingir ser heterossexual para não prejudicar o namoro do filho.Comédia ambientada em Saint Tropez, na boate "A Gaiola das Loucas", famosa por seus shows de transformistas. Renato, gerente do local, vive em um apartamento no andar superior com seu companheiro Albin, que é a estrela dos espetáculos. Um dia, Laurent, filho de Renato, comunica ao pai que vai se casar com a filha do secretário da União da Ordem Moral. Os problemas começam quando os pais da moça decidem conhecer a família do futuro genro. Desesperado, Laurent pede ao pai que mude a decoração da casa, tirando todos os objetos eróticos, e se livre de Albin. A partir daí, as confusões são inevitáveis.

Visitei o grupo duas semanas antes da estréia do espetáculo A Gaiola das Loucas. Fui muito bem recebida. Fizeram ensaio geral com figurinos e adereços. Tivemos uma conversa bastante produtiva depois do ensaio. Propús que eles trabalhassem o que havia de mais urgente: ritmo e buracos de cena. O grupo ensaia apenas uma vez por semana na Biblioteca Monteiro Lobato. A falta de espaço fixo e de um número maior de ensaios prejudica a criação.

Para estréia conseguiram melhorar o rítimo da peça. A adaptação de Paulo Rogério Rocco do texto de Jean Poiret é boa. A direção e as interpretações buscam efeitos cômicos, algumas vezes "rasos". O diretor e o elenco, não resistiram a tentação de propocionar à platéia, em alguns momentos, o riso "fácil". Algumas frases de efeito cõmico perdem-se na falta do tempo certo e da originalidade. O rítmo do espetáculo ainda é lento e alguns buracos nas passagens de cena comprometem a fluência do espetáculo. Ter atrizes nos papéis de travestis é muito bom porque provoca discussões acerca das opções sexuais dentro da família. A Trilha sonora é excessiva: muitos efeitos sonoros, muitas músicas e muitas cenas com dublagem. Purangaw pecou pelos excessos de efeitos cômicos, esses excessos levam o público apenas ao entretenimento, afastando-o algumas vezes do tema principal. Os figurinos e adereços são realistas e funcionais. O cenário é formado por 06 cubos que são usados apenas como assentos. O grupo pode criar com esse cenário móvel, outras possibilidades mais criativas.
O espetáculo tem forte apelo, o público diverte-se com as interpretações e com o universo gay porém, provoca ainda, pouca discussão sobre temas latentes no texto, como o preconceito, as novas opções sexuais e os novos valores familiares presentes no mundo contemporãneo.

No nosso segundo encontro, depois da estréia, falamos sobre todas as questões levantadas neste texto. O grupo acolheu bem as observações. Vão fazer as oficinas de direção e dramaturgia, aumentar o número de ensaios e de encontros para orientação do Núcleo Vocacional.
Segundo relato da Artista Orientadora Lilih Curi, na apresentação do CEU Butantã o Grupo Purangaw conseguiu resolver os buracos de cena e se aproximar mais do rítmo do espetáculo.


A direção é o ponto mais frágil do Grupo. Acredito que o trabalho de orientação e as oficinas de direção ajudarão a formar e descobrir o integrante mais indicado para a assumir a encenação.
Vivi, André e Gilson vão participar da oficina de direção oferecida pelo Núcleo Vocacional na Biblioteca Monteiro Lobato.


O grupo Purangaw tem muitas qualidades: onze anos de prática teatral, domínio de palco, organização, disciplina, produção e criatividade. O Purangaw precisa de orientação artística. Os integrantes pedem oficinas de corpo e voz. Além dessas oficinas eu indico direção e dramaturgia, e a orientação permanente de um Artísta Orientador com experiência em direção.

Soraya Aguillera


ENSAIO SOBRE O INACABADO
É muito cafona o que eu sinto por você, ensaio do TUBO DE ENSAIO no CEU BUTANTÃ,
dia 27 de maio às 20 horas

De todos os grupos que se apresentaram até agora no CEU Butantã o TUBO DE ENSAIO é o primeiro que assume está em processo de construção de um espetáculo, estando de acordo com o Espaço Aberto do Vocacional Apresenta no CEU Butantã.

O grupo leva uma banda pra cena, a Banda Bazar Pamplona é profissional e compôs a música título do espetáculo. Eles tocam ao vivo, fazem intervenções sonoras, criam temas que antecedem as cenas e comentam as cenas musicalmente. A apresentação foi o primeiro ensaio da banda com os atores, nunca haviam se encontrado para uma possível prática cênica porque não conseguiam uma estrutura com aparelhagens tais quais as do CEU para um ensaio. As letras e músicas são excelentes. A intercessão entre atores e música, saídas e entradas de cenas ainda é frágil, mas pertinente à etapa que estão na criação.

A dramaturga estreante, Fabíola, tem muito talento!!! Vale a pena ler o monólogo inicial da peça:

CAIO: É claro que eu já saí com outras pessoas antes, mas com você vai ser diferente de todas as outras. E antes que você reconheça esse clichê pobre de alguma comédia hollywoodiana, deixa eu explicar que eu nunca estive tanto tempo secretamente fascinado por uma mulher, e que é um grande choque pra mim agora descobrir que isso é inteiramente retribuído. Eu estou falando isso tudo porque quero que entenda que existe um bocado de pressão aqui. Nesse momento, você é a mulher mais perfeita que cruzou a minha vida e a expectativa de finalmente convidar você pra sair pode causar um grande estrago. Vai envolver ansiedade, todo aquele frio que eu sinto na barriga elevado à décima potência e a impossibilidade de não vazar o quanto eu vou me preocupar em fazer do nosso encontro o mais perfeito possível. Se ele for 99% bom, eu vou sentir que falhei. Então eu quero propor uma coisa. Vamos nos encontrar naquele boteco de esquina com a Celso Garcia. Aquele que serve cerveja barata em copos sujos e que um cabeleireiro paraguaio canta com o auxílio de midi e teclados para animar as noites. A gente senta numa das mesas de plástico e tenta estabelecer alguma comunicação, ignorando o videokê ao lado e a discussão de dois marmanjos alcoolizados, cujo desfecho terá um corpo arremessado contra a máquina de grelhar frango. Seus longos cabelos ondulados vão ficar impregnados com o cheiro da coxinha fria do balcão e meu hálito vai se misturar ao do garçom, que a cada rabo de galo servido a um cliente, serve dois para si. Fazer do nosso primeiro encontro o pior possível será nosso esforço bem sucedido. Assim, sem frustração de planos, sem expectativas, sem cobranças. Porque aí, quando eu deitar minha cabeça no travesseiro e lembrar do neon da sauna mista em frente refletida nos seus olhos, eu vou saber que eu não fui enganado. Que em outra ocasião e com outros esforços, eu poderia acreditar que a música ou a decoração ou a luz de velas ou o requinte do cardápio ou o aroma da dama da noite teriam influenciado os fatos. Mas nesse caso, eu vou ter certeza que todos os fogos de artifício que eu ouvir durante a noite antes de adormecer, foram provocados unicamente por você.

O texto num todo é muito bem escrito, inteligente, irônico, visual, contemporâneo: fala de relações afetivas que deram e não deram certo, fala de pessoas do nosso tempo, da nossa cidade, da nossa realidade.

Pertinente ao processo de criação que o grupo está vivenciando, o texto vem sendo modificado com os atores cena a cena, ensaio a ensaio.

Os atores dominam bem o texto que é de pequenos depoimentos sobre a vida amorosa dos seus personagens, um ou outro fala mais baixo (há uma atriz estreante), mas nada que bons toques não coloquem esses pequenos aspectos no lugar. A linha de atuação é realista/naturalista; exceção à uma cena com sombrinhas, desenhada, estilizada, uma tentativa de colocar o corpo+objeto à serviço do belo, da dança, da encenação.

Pra avaliar o espetáculo, preciso considerar que fizeram no CEU Butantã um primeiro ensaio aberto. Penso que a cada apresentação no Vocacional Apresenta estarão mostrando um avanço da construção do espetáculo. O interessante é que o TUBO DE ENSAIO não têm pressa, estão descobrindo cada coisa, vivendo sem ansiedade o caminho da construção.

O grupo ensaia uma vez por semana no espaço do Teatro das Epifanias. Fui eu quem fiz o convite para participarem do projeto e sou a AO responsável pelo grupo. Acredito que o que posso vir a contribuir é na construção da encenação. A Fabíola é estreante também em direção e não possui referências práticas e teóricas. A idéia é me aproximar dela primeiramente teoricamente apresentando o livro “A Linguagem da Encenação Teatral” de Jean-Jacques Roubine, selecionando capítulos para posterior discussão, e num outro momento perceber como ecoa tal aproximação na sua prática.

Provocar questões é também meu objetivo. O que Fabíola tem pensado quanto ao arranjar dos aspectos cênicos? Como pretende assessorar a construção do trabalho do ator? É o texto a sua principal ferramenta? E o corpo, a cena, é seu ator-compositor? Como provocar o músico a favor da encenação? E a direção de arte? Quais as escolhas? Qual cenografia, figurino, luz? E a intercessão com o vídeo? (Ela ainda quer experimentar o vídeo em cena). Bom, penso ser esse o primeiro diálogo.

Na apreciação, o grupo falou de seu histórico e de como esse trabalho vem sendo construído. A banda também falou do processo de compor para teatro. A apreciação foi de elogios por parte do público; muitas pessoas da família estavam presentes. Foi um dia de festa, um dia de conferir o primeiro resultado de um processo inacabado.

O TUBO DE ENSAIO não é orientado pelo Teatro Vocacional, mas acredito que poderá vir a ser. O grupo está tomando conhecimento do Projeto e abrindo-se a ele. Acredito que o segundo passo é agendar uma nova apresentação no Vocacional Apresenta.

Lilih Curi


O Gigante Nelson Rodrigues e a valente Identidade Oculta Cia. Teatral

A trajetória da jovem Identidade Oculta é de encher os olhos. Formada em 2005 traz a diversidade e a abertura deste jovem conjunto ter passado por orientação de diversos artistas orientadores do Teatro Vocacional. Louvável. Às vezes percebemos coletivos fechados a possibilidade de colaboração artística por insegurança de perda de identidade, autoridade de seus condutores. Parabéns.
A Identidade Oculta se lançou em “Nelson em Nós I – O Beijo no Asfalto” em desafio imenso. Nelson Rodrigues é o nosso Shakespeare. Autor colossal repleto de camadas e significados. Desafio enorme é escavá-lo. A Identidade Oculta percorre com criatividade e identidade de leitura nesta empreitada.
A adaptação do texto é muito interessante. Percebe-se o processo vivo gerando escolhas. Não há uma opção estética sem construção de identidades. Sem treinamento, pesquisa e experimentos a partir de um processo de criação. As escolhas mais genuínas nascem deste caldo em ebulição. Enxuta a adaptação conta a história com inteligência.
O espaço cênico também traz surpresas. A opção da arena com os espectadores no palco junto aos atores se mostra muito eficiente. Há uma proximidade na construção das afetividades entre atores e espectadores que é fundamental na proposta do espetáculo.
Os bancos-gavetas com rodinhas são muito eficazes a partir da estética cenográfica sem grandes corpos cenográficos que uma arena propõe. A movimentação destes bancos constrói a mudança dos espaços cênicos e a opção de por vezes eles estarem na fileira de espectadores e irem para a cena traz intimidade à arena criada. Eles também têm função de guardarem instrumentos usados pelos atores ao longo das cenas o que traz praticidade ao ritmo do espetáculo.
O figurino básico, macacões com estampa de jornal, traz interessante síntese da temática proposta pelo texto do Nelson, o poder da mídia sensacionalista, apontada pela Cia. Identidade Oculta em sua sinopse. Os atores mudam de personagens, às vezes na mesma cena, há o complemento por vezes de peças sobrepostas ao figurino base, e por vezes o processo traz soluções, como o jogo do pula cela para a mudança de personagem. Interessante perceber soluções que emergem da experimentação e busca de entendimento a partir do Nelson. Nelson em Nós, nome proposto pela Cia. ao espetáculo traz este trabalho de desconstrução, ou melhor, resignificação da obra do Nelson Rodrigues a partir do universo de referências da Identidade Oculta. Esta identidade passa pelos artistas orientadores que colaboraram e que atuam com a Cia. e seus integrantes.
Sublinhar algumas cenas pode ajudar a perceber o processo de inserção do ensaio no espetáculo:
· A cena inicial de marcar o cadáver com fita crepe traz efeito e síntese crítica muito interessante.
· A cena com a referência clown também traz síntese brechtiana.
· A cena de platéia também colabora com a leitura do senso comum das massas julgando de forma moralizante acontecimentos que se tornam públicos através da mídia sensacionalista.
Estas três cenas trazem, imagino, a importância do trabalho de Marcelo Correia, artista orientador que colaborou com o grupo em 2005 com referências da estética de Bertolt Brecht.
Vale sublinhar a maturidade deste jovem coletivo no acontecimento sobre deixar o material de cena no CEU Cidade Dutra para a apresentação do dia 27 de maio de 2008. Foi bonito acompanhar o grupo se colocando antes e depois da apresentação explicando o que ocorreu. Foi madura a atitude do grupo. Parabéns!
A direção de Paulo Henrique Sant´´Ánna é generosa e sua liderança em relação ao grupo também. Felicito também a artista orientadora atual do Cia. Maria Estela Tobbar, belíssimo trabalho!
A Identidade Oculta continua sua empreitada a partir do Nelson. Vem aí “A Serpente”. Como referências gostaria de propor ao grupo assistir ao espetáculo “Noivas de Nelson”, da Cia. Paulista de Artes, em cartaz no Satyros, sextas à meia noite até final de junho, depois eles irão para o Parlapatões. Indicar importantes leituras cinematográficas da Obra de Nelson: “A Falecida”, direção Leon Hisch “Boca de Ouro” com Jece Valadão, “Toda Nudez Será Castigada”, direção do Jabor. Importante também assistir no teatro a “Senhora dos Afogados”, direção do Antunes Filho, importante diretor brasileiro, que já montou espetáculos primorosos a partir do Nelson: “Paraíso Zona Norte”, “O Eterno Retorno”. Vale apena ir ao CPT e pedir referências sobre estes espetáculos, poder assistir a vídeos, ver croquis de cenografia, desenhos de figurinos, etc. Antunes é muito importante em relação ao Nelson, como Marco Antonio Braz, diretor do espetáculo “As Noivas de Nelson, e importante diretor-pesquisador da obra de Nelson. Ele está à frente da Cia. dos Comediantes e é nome importante para a possibilidade da Identidade Oculta buscar referências. Vale a pena também conversar com Rejane Arruda, artista orientadora do Teatro Vocacional. Ela juntamente com o Braz criou um belíssimo “Valsa n.6”, espetáculo brilhante, conversem com ela, ela poderia partilhar referências e eventualmente colaborar com workshop em relação a sua pesquisa de apropriação cênica e imagética a partir da palavra. Referência em vídeo é o documentário feito pela TV. Cultura “Nelson Rodrigues personagem de si mesmo”, tenho em vídeo é só me entregarem uma fita virgem que gravo pra vocês. A biografia de Ruy Castro “O Anjo Pornográfico”, também é referência fundamental.
Adoraria no segundo semestre ver a Identidade Oculta no Vocacional Apresenta com a possibilidade de uma semente da ação de fomento do Núcleo Vocacional, “Formação de Platéias”, Vamos conversar?
Por fim felicitar a todos que colaboram com esta valente Cia. de teatro. Com respeito e admiração,
Paco Abreu
Junho 2008


Ensaio Bando do Pé Rachado

O espetáculo é alegre, divertido e inteligente!
A encenação simples dá conta da ambientação de um banheiro através do uso de um vaso sanitário em porcelana verde, com alguns decalques que nos dá a sensação de estarmos em contato com uma obra artística . Não é preciso um cenário realista, pois os atores dão suporte as necessidades do texto.(Como quando desfilam com os produtos de higiene que a personagem principal solicita.)
O espetáculo tem um ritmo ótimo e o espaço é bem ocupado com marcas de entrada e saída que transcorre no fluxo da musica e luz, aliás, esta, bem definida com recortes que criam outros ambientes.
Figurinos compatíveis com as necessidades do texto e encenação.
As músicas dão um colorido ao espetáculo, propondo dinamismo e ritmo as cenas, com exceção á música cantada pelo Juca Chaves que dá um tom desagradável e desnecessário ao espetáculo.
O Trabalho dos atores é bom, mas não devem confundir ritmo com aceleração das falas, um ator deve raciocinar em cena, dando a exata sensação para a platéia que tudo está acontecendo naquele exato momento.O texto não pode ser só dito, mas sentido, refletido, dever conter os tempos da respiração, pausar...como se estivéssemos pensando naquilo que está sendo dito e ouvido.
Apesar do texto partir de uma idéia interessante (uma mulher dentro do banheiro do namorado que resolve investigar os produtos que ele usa , encontrando um shampoo p/a cabelos cacheados e que a perturba enormemente !) falta elaboração nos argumentos pois o texto torna-se repetitivo, faltando “assunto” para um melhor desenvolvimento das cenas
O texto é recheado de frases engraçadas, mas que não ajudam necessariamente a elucidar aonde se quer chegar: querer dizer o quê? E a quem?
O suposto conflito por que passa a personagem principal é frágil e não ajuda na consolidação do espetáculo em si, mas por outro lado, o texto dá liberdade para improvisos, interação com a platéia,e sobretudo revela a alegria e o desejo de todos estarem em cena, atores disponíveis, demonstrando uma incrível necessidade de comunicarem -se.
A alegria que demonstram de estarem no palco é exuberante e contagiante, contribuindo para a feliz execução do espetáculo!
Espero que o grupo se conscientize da necessidade de trabalho vocal, pois isso garantirá a todos uma melhor compreensão do texto e maior liberdade para os atores se expressarem.

Ensaio: Marcamos o ensaio para as 17 hs ,no Ceu Aricanduva, onde o grupo foi pontual.
Todos se mostram responsáveis pelo grupo e o trabalho que envolveu carregar e descarregar matérias de cena, figurinos, organização nos camarins, montagem de luz e passagem de som. Todos se mostram muito tranqüilos e responsáveis pelo todo do trabalho. Bonito de ver!!! O ensaio demorou em começar, pois o grupo queria fazê-lo com som e luz, então ficamos aguardando a chegada do técnico. A montagem de luz e som transcorreu normalmente.
Acredito que o grupo poderia ter outros ganhos com os ensaios, por exemplo, objetivando questões que gostariam de melhorar no espetáculo tais como: trabalho de interpretação, voz, coreografia, etc. Digo isso, pois o ensaio que realizaram deixou a desejar quanto a maturidade e disciplina que já foi observada no decorrer dos trabalhos que envolveram esta apresentação.
Ângela Barros



O Poder do Jogo - brincando de pega-pega no A-Tri-On por Cris Lozano

Apresentação
O Grupo A-Tri-On, constituído por dois integrantes, Joara Santos e Alessandro Cássio se graduaram na Universidade São Judas onde realizam a pesquisa para este espetáculo. A sinopse do espetáculo feita pelo grupo esclarece que a montagem consiste do prólogo, do 2º ato e do epílogo da peça "O Jogo o Poder", de Carlos Queiroz Telles, compilação de algumas obras de William Shakespeare. Focaliza o poder e todas as artimanhas para conquistá-lo e exercê-lo. Uma trupe de atrapalhados Coringas tenta montar uma grande apresentação para o respeitável público brasileiro, ressuscitando Shakespeare e sua incrível visão das fraquezas humanas entre elas: Justiça, Prepotência, Corrupção, Tortura, Humilhação, A Sabedoria da Loucura e Revolta.
Sobre o Autor
José Carlos Botelho de Queiróz Telles (São Paulo SP 1936 - idem 1993). Autor. É um dos fundadores do grupo Teatro Oficina nos anos 60. Ganha projeção como dramaturgo nos anos 70, através de adaptações ou recorrendo a temas ligados ao teatro de resistência e inspirados por acontecimentos do momento.
Seu primeiro texto, A Ponte, escrito em 1958, é levado à cena pelo Teatro Oficina no mesmo ano, ao iniciar suas atividades ainda em fase amadora. Forma-se em direito na Universidade de São Paulo, USP, em 1959. Volta à dramaturgia somente em 1972, com A Semana - Esses Intrépidos Rapazes e Sua Maravilhosa Semana de Arte Moderna, escrita para situar com novo olhar os acontecimentos do histórico movimento de renovação das artes brasileiras de 1922, e Frei Caneca, sobre a vida do padre revolucionário que pretendeu desligar Pernambuco do jugo português, com a Confederação do Equador no século XIX. Ambos, com direção de Fernando Peixoto, integram o movimento de recuperação do Theatro Studio São Pedro, promovido por Maurício e Beatriz Segall no início da década.
Ainda em 1972, com A Viagem, num bem-sucedido e grandioso espetáculo de Celso Nunes, produzido por Ruth Escobar, Queiroz transpõe para a cena o poema épico Os Lusíadas, de Luís de Camões. É premiado como melhor autor com o Molière, Associação Paulista de Críticos de Arte, APCA, e Independência do Conselho Estadual de Cultura do Estado de São Paulo.
Tomando uma notícia de jornal como inspiração, o autor enfoca em A Bolsinha Mágica de Marly Emboaba, a vida de uma prostituta de baixa condição, tomando o fato como um pretexto para falar sobre o milagre econômico em curso, levado à cena em 1975. No mesmo ano, tema assemelhado está em Muro de Arrimo - monólogo sobre um operário da construção civil que, enquanto levanta um muro, ouve um jogo de final de campeonato da seleção brasileira de futebol -, agudo contraponto entre suas duras condições de vida e as expectativas de um ilusório futuro de glórias. Alinhada à resistência, a montagem de Antônio Abujamra traz Antonio Fagundes como protagonista, em desempenho elogiado e premiado.
São esses os textos mais conhecidos e difundidos do autor: através da tradução francesa de Jacques Thieriot, conhecem montagens em Paris (sob o título de José) e outras capitais européias, a partir de 1976. Marly (traduzida como A Belle Vie), além da Europa, sobe aos palcos em algumas montagens latino-americanas.
Com Arte Final, Queiroz como que ajusta contas com o mundo da publicidade, atividade que bem conhece em sua longa carreira de profissional da área. Desde 1957 trabalha - como empregado ou proprietário - em diversas empresas do setor. As trapaças e negociatas que intermediam a oferta de produtos metaforizam-se sobre o protagonista, um criador de mitos que vê sua situação existencial falir e desintegrar-se. Novamente com Antonio Fagundes no desempenho central, a montagem sobe à cena em 1978, com direção de Cecil Thiré.
Completam as obras do autor A Heróica Pancada, texto sobre um grupo de ex-alunos da Faculdade de Direito, proibido em 1973, ainda inédito; Um Trágico Acidente, encenado sem repercussão em 1976; e o infantil A Revolta dos Perus, de 1985.
Analisando em sua tese a atuação dramatúrgica de Queiroz, afirma o professor Marco Antônio Guerra: "Trabalhando o conteúdo histórico sob as mais variadas formas - do musical à tragédia, da chanchada ao drama - e utilizando todos os recursos possíveis - colagens, adaptações, documentos, depoimentos etc. - Carlos Queiroz Telles aponta também para uma nova forma de autor no Brasil pós-64: não mais aquele criador único, de significados únicos, com uma trajetória de vida linear, mas sim, como indivíduo construído e reconstruído por fatores sociais e ideológicos, cuja identidade não paira acima desses fatores e nem se desenvolve por uma lógica interna autônoma. Pelo contrário, é na relação profunda entre as estruturas existentes e sua produção dramatúrgica que reside grande parte de sua importância no quadro da cultura brasileira. (...) Queiroz faz o teatro possível: aquele que ele próprio denomina Teatro de Eficiência".
A primeira montagem
Foi realizada em São Paulo, em 1974 com direção de Gianni Ratto e Sergio Mamberti como protagonista.
Fontes de Pesquisa
ALBUQUERQUE, Johana. Carlos Queiroz Telles. In: ______. Enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. São Paulo, 2000. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação Vitae.
CRONOLOGIA das artes em São Paulo 1975-1995: artes cênicas - teatro. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. v. 3.
GUERRA, M. A. Carlos Queiroz Telles: história e dramaturgia em cena: década de 70. São Paulo: Annablume, 1993.
TELLES, Carlos Queiroz. Tirando de letra: um manual de sobrevivência na selva da comunicação, publicidade, teatro, jornalismo, televisão. São Paulo: Nova Cultural, 1993.
Enclicopédia Virtual de Artes Cênicas do Itaucultural -2007

A orientação do Vocacional Apresenta
O grupo se dispôs a fazer um ensaio para mim depois da sua apresentação no CEU Butantã onde foi constatado pela artista-orientadora Lilih Curi que seria necessária a presença de um diretor, uma vez que a montagem carecia de vários olhares e direcionamentos em todos os níveis do espetáculo. Quando assisti ao ensaio propus imediatamente pontos de reflexão sobre o espaço, o texto, a construção das personagens e investiguei sobre a pesquisa, concluindo que havia apropriação teórica sobre o texto por parte do grupo. Percebe-se claramente que não houve nenhuma interlocução externa que dialogasse com os atores que os provocasse para a criação consciente de todos os elementos cênicos. Os atores, a principio, se mostraram muito interessados num trabalho continuo de desmontagem desta primeira proposta com o intuito de reapropriação e outros encontros com este primeiro texto de estudos escolhido por eles. Na prática, os encontros não aconteceram pois foram desmarcados numa série de 3 vezes.
A proposta inicial do Vocacional Apresenta (que foi explicado ao ator Alessandro por telefone), se refere ao espaço concedido para as apresentações, a apreciação do público como devolução presente do espectador para o espetáculo e divulgação do trabalho. Temos ainda a tarefa processual de acompanhamento do grupo seja em qual área houver interesse, pois se trata de uma parceria do Projeto com grupos vocacionados ou não. Parece que foi desperdiçada esta oportunidade pelo grupo sem explicação anterior, uma vez, que não havia a experiência com um diretor já que o grupo é constituído só por atores.
Sugiro que o grupo se organize e defina seu interesse pelo fazer teatral, pois são dois atores profissionais que não atuam profissionalmente, mas que mostram muito interesse pela linguagem teatral. Existem fases da montagem de um espetáculo que vale o debruçamento, a disciplina e a experiência prática. Seria interessante que criassem a possibilidade de fazer outras parcerias.
Cris Lozano

terça-feira, 1 de julho de 2008

programação de julho

Toda Terça Tem Teatro - Vocacional Apresenta
Julho 2008


De Maio a novembro, em 2008, sempre às terças-feiras, às 20hs, com entrada gratuita, grupos de teatro circulam por oito teatros da Prefeitura: Alfredo Mesquita, Arthur Azevedo, Martins Penna, Centro Cultural da Juventude, CEU Alvarenga, CEU Aricanduva, CEU Butantã e CEU Cidade Dutra.

Realização: SMC / DEC / NÚCLEO VOCACIONAL

O Vocacional Apresenta agradece aos 32 grupos de teatro que nos meses de maio e junho partilharam seus espetáculos e que agora em julho se apresentam nos oito teatros que também são parceiros do Núcleo Vocacional. Temos o prazer em convidar estes 32 grupos e também a todos os espectadores do Vocacional Apresenta, bem como, artistas orientadores do Teatro e Dança Vocacional, artistas vocacionados e interessados em teatro de forma geral, a participarem do primeiro encontro Vocacional Apresenta a ser realizado no dia 06 de julho, domingo, das 14h às 17h, no Tendal da Lapa, Rua Constança n.72. Em nosso blog você encontra o programa deste encontro com informações detalhadas. Participe.
Convidamos também a todos para a programação do Espaço Aberto – Vocacional Apresenta no CEU Butantã. Em julho o Teatro de Rua estará em jogo. Grupos profissionais e vocacionados partilham suas experiências, teremos também mostra de vídeos, apresentação de espetáculos de rua e práticas “A Rua em Jogo no CEU Butantã”. Participe. Consulte a programação em nosso blog: www.vocapresenta.blogspot.com Para cadastramento e agendamento grupos interessados podem retirar ficha de inscrição pelo e-mail vocacionalapresenta@gmail.com
Se você deseja fazer teatro, dança ou música procure o Núcleo Vocacional, ele oferece orientação a turmas de iniciação e orientação a grupos em 80 pontos por toda São Paulo: casas de cultura, bibliotecas, CEUs, Galeria Olido, Centro Cultural São Paulo, Centro Cultural da Juventude e parcerias.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas nos próprios equipamentos onde o Vocacional atua. Para mais informações: tel. 3397-0166 e 3397-0167
www.expansaocultural.org

Programação

ANFITRIÃO
Grupo Rodar. Comédia. 30 min. Livre
Adaptação da comédia de Plauto, importante autor popular da antiguidade romana.

/ Teatro CEU Butantã. Zona Oeste. Dia 08

A VIDA É SONHO
Grupo de Arte Baobá. Drama. 90 min. 14 anos
Texto de Calderón de La Barca, autor espanhol do séc. XVII, que nos conta a história de Segismundo, príncipe herdeiro da Polônia que fora preso numa torre, desde o seu nascimento, pelo próprio pai.
/Centro Cultural da Juventude. Zona Norte. Dia 08
/ Teatro CEU Cidade Dutra. Zona Sul. Dia 15
/ Teatro Martins Penna. Zona Leste. Dia 29

O MENDIGO OU O CACHORRO LOUCO
Cia de Teatro Faces Ocultas. Comédia. 45 min. 14 anos
Seis Imperadores ao se dirigirem às comemorações de suas conquistas deparam-se com 06 mendigos e travam diálogo filosófico e político sobre as diferentes condições de suas posições.
/Teatro Alfredo Mesquita. Zona Norte. Dia 01
/ Teatro Martins Penna. Zona Leste. Dia15
/ Teatro CEU Aricanduva. Zona Leste. Dia 22
/ Teatro Arthur Azevedo. Zona Leste. Dia 29

DOM CASMURRO
Grupo Artemanha. Drama. 90 min. 12 anos
Romance de Machado de Assis ganha versão teatral do grupo Artemanha.
/ Teatro Martins Penna. Zona Leste. Dia 01
/ Teatro CEU Aricanduva. Zona Leste. Dia 08
/ Teatro Arthur Azevedo. Zona Leste. Dia15
/ Teatro Alfredo Mesquita. Zona Norte. Dia 29

A BORBOLETA PLOC
Grupo Panelinha da Casa. Infantil. 40 min. 3 anos
Certa borboleta se apaixona por um Louva-a-Deus, porém precisa escapar de um caçador que a quer a todo custo para a sua coleção.
/ Centro Cultural da Juventude. Zona Norte. Dia 01
/ Teatro CEU Cidade Dutra. Zona Sul. Dia 08

FRANCISCO&CLARA
Grupo Espalhafatos. Drama. 50 min. 7 anos
O texto é baseado no filme “Irmão Sol, Irmã Lua” de Franco Zefirelli e conta a trajetória e os feitos de São Francisco de Assis e Santa Clara.
/ Teatro Martins Penna. Zona Leste. Dia 08
/ Teatro CEU Aricanduva. Zona Leste. Dia 15


A CANTORA CARECA
Grupo Ato.Kom. Drama. 70 min. 14 anos
A Cantora Careca, texto de Eugène Ionesco, destaca o problema da incomunicabilidade levada ao extremo e denuncia o desgaste das relações afetivas.
/ Teatro CEU Alvarenga. Zona Sul. Dia 22

AGRESTE
Grupo Outra Coisa. Drama. 30 min. 12 anos
Esta é a história de um casal do Nordeste muito castigado pela seca que se apaixonam loucamente... mas havia algo proibido no amor deles que não podia de maneira nenhuma acontecer, mas aconteceu...
/ Teatro CEU Alvarenga. Zona Sul. Dia 01


MARIDO, MATRIZ E FILIAL
Cia da Tchecka. Comédia. 50 min. 14 anos
Como resolver um conflito de traição conjugal? Fatos inusitados e divertidos surgem quando o interrogatório se inicia...
/ Teatro CEU Cidade Dutra. Zona Sul. Dia 01
/ Centro Cultural da Juventude. Zona Norte. Dia 22
/ Teatro CEU Aricanduva. Zona Leste. Dia 29


AQUELE QUE DIZ SIM E AQUELE QUE DIZ NÃO
Grupo Pulga de Teatro. Drama. 80 min. 10 anos
Um menino quer acompanhar um professor e três estudantes em uma caravana que sai em busca de remédios e instruções, na cidade além das montanhas.
/ Teatro CEU Alvarenga. Zona Sul. Dia 15

LAMPIÃO, O CANGACEIRO CAPITÃO.
Grupo Filhos de Maria Gorette. Drama. 45 min.10 anos
Monólogo relata a trajetória de Virgulino Ferreira, o Lampião. Sua infância, a entrada no cangaço e o amor por Maria Bonita.
/ Teatro Alfredo Mesquita. Zona Norte. Dia 15
/ Teatro Arthur Azevedo. Zona Leste. Dia 22
/ Teatro CEU Cidade Dutra. Zona Sul. Dia 29


O PAI, O DEDO E OS FILHOS NADA SANTOS
Cia. Teatral Ichthus. Texto e Direção: Flávio de Assis. 70 min. 10 anos
A Cia. Ichthus nos conta a história de João Roberto, pai de família que faz um exame e descobre que sua morte está próxima.
/ Teatro CEU Alvarenga. Zona Sul. Dia 29

A LUTA PELO VERDE
Grupo: TPC- Teatro Popular Comunitário. Drama. 45 min.10 anos
Três jovens interessados em serem ecologistas resolvem iniciar seus estudos por conta própria e para isso realizam uma expedição a uma mata.
/ Teatro Arthur Azevedo. Zona Leste. Dia 01
/ Teatro Alfredo Mesquita. Zona Norte. Dia 08
/ Centro Cultural da Juventude. Zona Norte. Dia 15
/ Teatro Martins Penna. Zona Leste. Dia 22

A FARSA DO BOI
Cia Pé de Pano. 50 min. Livre
A Farsa do boi é espetáculo cheio de cor e diversão para todas as idades inspirado nas tradições do boi Bumbá.
/ Teatro CEU Aricanduva. Zona Leste. Dia 01
/Teatro Arthur Azevedo. Zona Leste. Dia 08
/ Teatro Alfredo Mesquita. Zona Norte. Dia 22
/ Centro Cultural da Juventude. Zona Norte. Dia 29

Endereços:
Teatro Alfredo Mesquita
Av. Santos Dumont, 1770, Santana, Zona Norte / tel.2221-3657.
Estacionamento próprio

Teatro Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955, Mooca, Zona Leste / tel.6605-8007
Estacionamento próprio


Teatro Martins Penna
Largo do Rosário, 20, Penha, Zona Leste / tel.2293-6630.
Próximo do Shopping Penha

Centro Cultural da Juventude
Av. Deputado Emílio Carlos, 3641, Vila Nova Cachoeirinha / tel.3984-2466.
Próximo do Terminal de Ônibus Cachoeirinha

CEU Alvarenga
Estrada do Alvarenga, 3752 – Balneário São Francisco / Pedreira
Fones: 5672-2542 / 5672-2514/ 5672-2543 /5672-2516
Pontos de referência: Av. Sabará e estrada do Alvarenga, depois do supermercado Pedreira


CEU Aricanduva
R. Olga Fadel Abarca, s/nº - Vila Aricanduva / Cidade Líder. Alt. 5500 da Av. Aricanduva
Fones: 6723-7556 / 6723-7558

CEU Butantã
Av. Engenheiro Heitor Antônio Eiras Garcia 1.870 – Jd. Esmeralda / Rio Pequeno
Fones: 3732-4551

CEU Cidade Dutra
Endereço: Av. Interlagos ,7.350 – Interlagos
Fones: 5668-1952